05 abril 2014

Título pós-Cocada: a história apagada da Copa Rio 1993, vencida pelo Vasco


Com 20 anos recém-completados, um título estadual do Vasco não foi homenageado, lembrado ou mencionado. Mesmo conquistado sobre o Flamengo, parece ter sido uma lenda. Um clássico que jamais foi jogado. Mas foi. E a vitória por 1 a 0 em 29 de novembro de 1993, gol de um atacante que não vingou no futebol, tirou até o Rubro-Negro da Copa do Brasil do ano seguinte.

Trata-se da Copa Rio, torneio criado pelo ex-presidente da Federação do Rio, Eduardo Viana, e que não foi aprovado pelos clubes grandes. De qualquer forma, o fato é que na era pós-Cocada, o Cruz-Maltino superou, sim, o arquirrival em uma decisão. E com seu time titular quase todo em campo.

A reportagem do programa Globo Esporte do dia seguinte evidencia o cenário triste do qual as duas equipes foram obrigadas a participar. Partida em Moça Bonita, com menos de três mil torcedores presentes e poucos holofotes. O motivo principal, porém, não tem a ver só com a queda de braço com o caixa d´água, e sim com o calendário de fazer inveja às trapalhadas atuais. 

Treinado por Júnior, que acabara de se aposentar, o Flamengo utilizou os reservas nas duas finais por ter jogado pela Supercopa e Brasileirão, respectivamente, 24 horas antes.

Diante da escalação, nomes como Fábio Baiano, Rodrigo Mendes e Sávio saltam aos olhos, mas o trio que viria a ter sucesso dava os primeiros passos como profissional e pouco pôde fazer para impedir as derrotas - no primeiro encontro, 2 a 0 para o Vasco, no mesmo palco. Futuro ídolo da torcida, o ex-atacante não se recordou de nenhum detalhe daquela noite de quinta-feira.

- Peguei uma época de rivalidade muito grande, de disputas dentro e fora de campo entre os dois. O Vasco tinha times fortes, tanto que foi tricampeão carioca e depois ganhou o Brasileiro. Mas, apesar de eu ser bom em dados da minha carreira, te juro que não lembro desse jogo. Minha melhor memória é a Taça Guanabara de 96, quando fiz gol na final - afirmou Sávio.

Volante do time de Alcir Portella (que já substituía Joel Santana, a caminho do Bahia após o bi carioca em São Januário), Leandro Ávila ainda tinha cabelos, não carregava o sobrenome no futebol e também não ostentava as convocações para a seleção brasileira que o destacaram. De tanto tempo que passou, mal se recordou da existência da competição mesmo após esforço.

- Cara, tenho pouca memória do próprio Campeonato Carioca de 1993, que acho que vencemos o Fluminense na decisão, certo? Desse torneio, então... Acho que não vou poder te ajudar.

No entanto, ao saber que o desconhecido Júnior havia decidido o confronto, Leandro se espantou e falou mais sobre o ex-companheiro que não correspondeu às expectativas.

- Esse Júnior fez gols para caramba na base, era uma grande promessa. Mas fez poucos jogos no profissional, porque não se firmava. Pelo menos, guardou este momento.

Há pouquíssimos registros disponíveis sobre Júnior. Sabe-se que ele encerrou a carreira antes dos anos 2000 e que morava em Niterói. Naquela temporada, Isaías Tinoco assumiu a gerência do Flamengo. Mas havia trabalhado nas categorias de base do Vasco.

Fez elogios ao potencial do atacante rival, mas foi o outro não ser capaz de passar no teste de memória.

- Estou mexendo no meu arquivo mental, mas está difícil. Copa Rio? Não era a Taça Rio...? O que eu lembro é de um estadual já conturbado, em que o Flamengo teve problemas com a federação, e a relação não era das melhores. Mas garanto a você que, se eu tivesse conquistado, lembraria. Como perdi, esqueço mesmo - brincou Isaías.

O torneio, inchado, reuniu 26 clubes no total e se dividiu entre Grupo da Capital e Grupo do Interior. O Rubro-Negro levou um troféu simbólico pela melhor campanha da primeira fase. Mais tarde, já sem Fluminense e Botafogo no caminho, eliminou o Entrerriense na semifinal, enquanto o Vasco bateu o Americano. A equipe de Campos, aliás, tinha a torcida de Eduardo Viana.

Segundo o jornalista e pesquisador Roberto Assaf, o objetivo da Copa Rio era claro:

Não me recordo da final. E para eu não lembrar é porque foi pouco divulgado e esvaziado mesmo. Na verdade, a premissa desse torneio era uma vergonha. Ele foi criado para ver se o Americano era campeão, algo que só aconteceu em dois turnos do chamado Caixão, que era o estadual de 2002. Aquela época o calendário do futebol brasileiro foi o ápice de uma bagunça. Grêmio e São Paulo, se não me engano, jogaram quase 100 partidas em 1993 - contou Assaf.

Presente nas duas partidas da final, o ex-zagueiro Alexandre Torres foi o único a detalhar um pouco mais a atmosfera que envolvia aquele fim de temporada. Mas não houve festa.

- Vou ser sincero, não lembro muito dessa Copa Rio. Só lembro que jogamos bastante contra o Fluminense em decisões. Ganhamos esse título sobre o Flamengo, mas sei que o pessoal estava meio querendo entrar de férias. Alguns não sabiam se iam continuar no Vasco, outros foram dispensados desses jogos (Carlos Germano, Cássio, William e Valdir não participaram). Não tinha muita motivação. O pessoal não encarou como se valesse um título. Só queríamos deixar uma boa impressão e ganhar do Flamengo - revelou.

Em 1994, o Fluminense levou a competição, batendo o Volta Redonda na final. Já em 1995, o Voltaço sagrou-se campeão depois de o Flamengo se retirar alegando divergências com a Ferj. Os outros grandes só escalaram reservas. A partir de 1996, apenas os clubes considerados pequenos passaram a disputar. Hoje, a Copa Rio ocorre sempre segundo semestre.
Confira as escalações de Vasco e Flamengo na finalíssima, em 29 de novembro de 1993:

Vasco: Caetano, Pimentel, Jorge Luís, Alexandre Torres e Ayupe; Leandro Ávila, França, Yan (Sídnei) e Gian; Júnior e Jardel (Hernande) - Técnico: Alcir Portella

Flamengo: Adriano, Fábio Baiano, Marcelo, Herbert, Hélton (Rodrigo), Fabiano, Luiz Antônio (Da Silva), Júlio César, Sandro, Sávio e Edu Lima - Técnico: Júnior
Fonte: GE

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