Em quatro anos atuando no Palmeiras, Márcio Araújo se destacou por fazer um bom trabalho defensivo e ter boa regularidade em sua atuações, mas chegou a ser criticado por parte da torcida.
Em três meses de Flamengo, o volante já esteve em evidência pelo que produziu ofensivamente, fez dois gols marcantes e tem agradado aos torcedores rubro-negros. Os números não deixam dúvidas sobre a diferença do desempenho do jogador nas duas equipes, e já foram feitas comparações entre ele e o antigo dono da camisa oito flamenguista, Elias, hoje no Corinthians.
Em entrevista ao ESPN.com.br, no entanto, o autor do polêmico gol do título carioca de 2014 evitou qualquer comparação com Elias, relação que já havia sido feita por Jayme de Almeida, ex-técnico do Fla, por causa das características parecidas. Márco Araújo, porém, reconhece que a mudança de seu posicionamento em campo foi benéfica. No Palmeiras, na maior parte do tempo ele atuava como primeiro volante. Agora no Flamengo, está jogando um pouco mais adiantado, como segundo volante.
“Quando a gente joga de primeiro volante fica marcando bastante, às vezes nem é valorizado pelo trabalho que a gente faz. Quando joga de segundo volante tem muito mais oportunidade de chegar à frente, chutar no gol, participar de lances bons, então isso tem sido bom para mim”, disse o atleta de 29 anos.
Os números da Footstats mostram a evolução ofensiva do volante da temporada anterior para a de agora. No Palmeiras em 2013, Márcio Araújo fez três gols em 61 jogos. No Flamengo em 2014, já marcou dois gols em apenas 13 partidas (um no empate por 1 a 1 com o Vasco, na final do Carioca, e outro nos 4 a 2 sobre o próprio Palmeiras, pelo Brasileiro).
Além disso, já deu uma assistência este ano, contra nenhuma no ano passado. Também faz mais cruzamentos (média de 0,2 por jogo em 2014, contra 0,09 em 2013), mais lançamentos (1,7, contra 0,7), acerta mais finalizações no gol (50% de acerto, contra 32%) e comete menos faltas (média de 0,5 por jogo em 2014 no Fla, contra 0,8 no Palmeiras em 2013).
A boa fase atual no Rubro-Negro carioca faz Márcio Araújo dizer que está vivendo um “sonho”. O camisa oito ainda explicou os motivos que o fizeram deixar o Alviverde paulista e faz planos para conquistar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores pelo Flamengo.
Confira abaixo a entrevista completa com Márcio Araújo:
ESPN.com.br – Qual o balanço que vocês faz desses três meses que está no Flamengo?
Márcio Araújo – Melhor do que o esperado, principalmente pelo tempo que eu fiquei parado. Quando eu cheguei o pessoal já tinha feito pré-temporada, já tinha começado o Carioca. Eu cheguei no último dia de inscrição do Carioca. Então, para mim tem sido um sonho, tenho vivido um sonho, e graças a Deus tem dado tudo certo.
Você sempre foi uma pessoa muito discreta fora de campo. Como se sentiu depois de ser o centro da atenções ao marcar o polêmico gol na final do Carioca?
Acho que fui praticamente obrigado, eu geralmente não gosto. Em todos os clubes que eu passei, mesmo fazendo belas campanhas, tendo belas atuações na maioria dos jogos, eu nunca gostei de no dia seguinte ficar dando entrevista para a imprensa. Esse gol na final me fez no dia seguinte ter que dar entrevistas, falar, principalmente pela importância do gol e por aquilo que a gente fez na partida.
Te incomodou o fato de ter marcado o gol em posição de impedimento contra o Vasco?
Se você analisa as imagens friamente, se você não está no jogo, é muito fácil criticar ou falar que o gol foi irregular. Até para mim mesmo foi surpresa, e acho que para todos que estavam no estádio. Ninguém imaginava que o gol teria sido impedido. Quando acabou o jogo, um rapaz da rádio me entrevistou e falou que tinha sido impedido, para mim foi surpresa, porque no lance não tinha como perceber que eu estaria em posição irregular. Mas independente de qualquer polêmica, acho que o mais importante foi a gente ter empatado o jogo e ter saído campeão.
O elenco atual do Flamengo tem força para brigar pelo título do Brasileiro? Ou será preciso contratar reforços?
É um grupo bastante forte, mas a gente sabe que existem lesões e outros problemas. Já estamos enfrentando isso no início do Brasileiro, muitos atletas lesionados, a gente saber que peças de reposição vão ser sempre solicitadas, e acho que a diretoria já tem buscado isso. Também temos dado a reposta dentro do campo, no início do campeonato é mais difícil, as equipes estão se estudando ainda, mas esperamos conseguir pontos para ter tranquilidade ate essa parada da Copa.
Qual foi o grande erro do Flamengo para ser eliminado ainda na primeira fase da Libertadores?
Acho que pecou principalmente nos jogos em casa, a partir daquele jogo contra o Bolívar, que estava ganhando e sofreu o empate no Maracanã. Aquilo deu uma baqueada no grupo. A gente teve que buscar o resultado fora e buscou contra o Emelec, o que ninguém esperava. Mas o desgaste é muito grande, e perdemos a classificação em casa. Acho que os jogos em casa definiram muito mais do que os jogos fora, a gente não fez o dever de casa bem feito e acabou atrapalhando na classificação.
Nenhum time brasileiro chegou às semifinais da Libertadores. Você acha que a diferença de qualidade entre as equipes do país e do restante da América do Sul diminuiu?
Acho que diferença é muito grande. Se fosse analisar a qualidade desde o inicio da Libertadores, a qualidade dos times brasileiros e dos sul-americanos, a diferença é muito grande. Mas Libertadores é diferente, não se ganha só com técnica ou com um grupo mais qualificado, quando entra em campo as coisas são muito iguais. No Brasileiro a gente já vê uma igualdade, mas na Libertadores a igualdade é muito maior. A disputa não é somente um jogo técnico, acho que a briga dos sul-americanos consegue igualar a técnica que os brasileiros têm.
E os brasileiros não podem se igualar nessa “briga” também?
Dá, mas eu acho que o brasileiro está atrás nisso, eles conseguem catimbar muito mais, conseguem bater muito mais sem o árbitro ver. Quando a gente se irrita e vai fazer isso, faz de uma maneira diferente e vai expulso. Acho que se for ver na história dos confrontos sul-americanos, a gente sempre vai levar a pior em relação a briga.
Por que você saiu do Palmeiras no fim do ano passado?
A direitoria, a comissão técnica, jogadores, tenho muito amigos lá, queriam que eu permanecesse. Eu que optei por dar uma saída, respirar novos ares, buscar novos objetivos na minha carreira. Quando a gente passa muito tempo em um clube, acaba acomodando sem perceber, sem que a gente queira. Então, achei melhor dar um novo rumo à minha carreira.
Chegaram a te oferecer contrato de produtividade para renovar o contrato lá?
Pra mim eles nem me ofereceram em relação a isso. Me ofereceram dois anos de contrato, salário até melhor do que eu ganhava antes, mas eu acheiopor bem mesmo dar uma saída e respirar novos ares.
As críticas que você recebia de parte da torcida palmeirense pesaram contra na sua vontade de permancer no clube?
Eu não via isso (críticas) nos jogos, até porque a maioria dos jogos que joguei, pelo menos do público que ia nos estádios, eu nunca ouvi vaia. Eu me dedicava sempre, era sempre um dos melhores em campo. Pelo que a comissão técnica exigia de mim, acho que sempre fiz bem feito. Claro que a gente não joga bem em todos os jogos, existem jogos que a gente vai abaixo da crítica, mas acho que no geral eu pude agradar. Sou muito grato pelo tempo que eu passei lá, pelo apoio que eu tive de todos. Se no final ficou alguma mágoa por parte deles eu não sei, mas de minha parte, não. Só ficou gratidão.
Você já foi comparado com o Elias, pelo Jayme de Almeida inclusive, por ter caracterísitcas parecidas com ele em campo. Concorda com isso?
Acho que mais a precisão durante os jogos. No início da minha carreira eu era até muito mais ofensivo, porque eu sempre fui segundo volante. Mas a partir do momento que o Felipão (no Palmeiras) me colocou para jogar como primeiro volante, faz três anos e meio que eu venho jogando nessa posição, então eu tenho que me readaptar. Hoje aqui no Flamengo tem o Cáceres que joga nessa posição e faz muito bem, e eu tenho mais liberdade. Graças a Deus eu tenho sido feliz, tenho aparecido mais na frente e criado mais chances lá na frente.
Te agrada jogar mais adiantado, como segundo volante?
Agrada, foi onde eu comecei, acho que a gente aparece muito mais para o jogo. Quando a gente joga de primeiro volante fica marcando bastante, às vezes nem é valorizado pelo trabalho que a gente faz. Quando joga de segundo volante tem muito mais oportunidade de chegar à frente, chutar no gol, participar de lances bons, então isso tem sido bom para mim. Eu cheguei no clube treinando normalmente, mas o Jayme me colocou nessa posição de seguindo volante pro opção dele mesmo.
Já sentiu alguma diferença agora no Flamengo por atuar tendo o apoio da maior torcida do Brasil?
Faz diferença em todos os sentidos, nos jogos, nos pedidos de camisa, ingressos. Meu celular nunca tocou tanto. A partir do momento que eu assinei com o Flamengo, as pessoas valorizam muito mais, reconhecem muito mais, tem um carinho muito grande. O torcedor do Flamengo, como todo mundo já me falava antes, sabe da importância que eles têm, da força que eles transmitem da arquibancada. O apoio deles é sensacional.
O alto preço dos ingressos tem impedido os torcedores de lotarem o Maracanã na maioria dos jogos do Flamengo. Isso é ruim para vocês jogadores?
Com certeza todos os atletas querem jogar com o estádio lotado, mas a gente entende o lado do torcedor e da diretoria também. Acho que tem um preço alto para jogar no Maracanã, a partir do momento que terceirizaram o estádio. A gente sabe das responsabilidades de todo mundo, ninguém faz as coisas à toa. Se as pessoas pesquisarem mesmo, às vezes se passa a notícia crua para os torcedores, aí eles ficam com aquela mágoa da diretoria. Mas acho que eles têm feito o melhor, tentando pagar também as dívidas que o clube tem, tentado colocar as coisas em dia com atletas e funcionários. Então, a gente entende tosos os lados.
Qual o seu grande objetivo nos próximos anos no Flamengo?
A partir do momento que se chega a um grande clube, para marcar história a gente tem que conquistar títulos. Graça a Deus já conquistei um Carioca, mas eu ainda não fui campeão brasileiro, ainda não ganhei uma Libertadores. Espero que isso possa se concretizar aqui no Flamengo, vai ser sensacional. Fonte: ESPN Brasil
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