16 maio 2014

Pupilos de Ney no Fla, “trio pão de queijo” busca emprego após oito anos


Léo Medeiros, Walter Minhoca e Diego Silva recordam passagem pela Gávea e falam sobre suas carreiras. Arrependimento de meia e crise do Ipatinga são destacados.

O torcedor rubro-negro que se recorda da primeira passagem de Ney Franco pelo Flamengo certamente tem na lembrança a então famosa “república do pão de queijo”. Depois de um ótimo primeiro semestre pelo Ipatinga em 2006, não só o treinador, como um bom número de jogadores que se destacaram pelo clube mineiro chegaram à Gávea. Ainda antes do acerto com o comandante, o Fla fechava, em abril do mesmo ano, um pacotão. Desembarcavam no Rio de Janeiro o volante Léo Medeiros, o meia Walter Minhoca e o atacante Diego Silva. Era a realização de um sonho para os três, mas apenas o primeiro conseguiu se manter por mais de uma temporada. Cerca de oito anos depois, porém, a situação de todos é a mesma: sem clube e com algumas frustrações na carreira, buscam voltar aos campos para mostrar trabalho.

Em comum, todos nutrem um carinho especial por Ney Franco. Depois do Fla, o caminho dos três jogadores cruzou, de alguma forma, com o ex-chefe que se tornou amigo. Léo Medeiros foi o único que voltou a trabalhar com o treinador, quando foi emprestado ao Atlético-PR em 2008. No ano seguinte, Ney foi o responsável pela ida de Minhoca ao Guarani, indicando o jogador para Vadão. Por fim, sem relações profissionais, mas com o contato mais recente, aparece Diego Silva. Com problemas em mais uma passagem pelo Ipatinga e trabalhando sem receber salário no clube, o atacante ligou para o então técnico do Vitória, desejou sorte na final do Campeonato Baiano e pediu ajuda, confiando na credibilidade e nas boas relações de Ney.

Léo Medeiros lembra bem de sua passagem pelo Rio de Janeiro, mas acredita que a decisão de buscar muitos nomes no Ipatinga não foi tomada de maneira correta. Depois da chegada do treinador, alguns outros ex-colegas em Minas Gerais, como Jaílton e Paulinho, também reforçaram o Flamengo.

- A imprensa começou a pegar no pé com a tal república do pão de queijo. Claro que todos os treinadores têm isso de levar jogadores, é normal. Mas hoje ele não faria isso de novo. O Ipatinga foi o primeiro clube dele, e na época ele só tinha conhecimento daqueles atletas, era a única referência. Com muitos jogadores trazidos de um mesmo clube, a cobrança fica muito maior.

Se o volante conseguiu prolongar o vínculo inicial com o Rubro-Negro e permanecer como atleta do clube até o fim de 2010, o destino de Walter Minhoca e Diego Silva foi bem diferente. Antes mesmo do fim de 2006, ambos deixaram a Gávea por vontade própria. A decisão, tomada também por causa do atraso de salários, é um dos maiores arrependimentos do meia.

- A burrada de sair foi minha. Partiu de mim. Quando você sai de um time pequeno e vai para o Flamengo, você imagina que vai brigar por posição. Confesso que fiquei surpreso quando, no terceiro jogo, já fui colocado como titular. E falo que fui do céu ao inferno. Nos dois primeiros meses eu estava nas graças da torcida e da diretoria. Mas depois o salário começou a atrasar, e eu não conseguia nem pagar o aluguel. Comecei a sentir um pouco isso, meu rendimento caiu. Até que chegou um jogo contra o Internacional e o time perdeu de virada por 2 a 1. Quando estava 1 a 1 eu perdi um gol e parecia que o Maracanã ia cair em cima de mim – relembra.

LÉO MEDEIROS: FOCO NA FACULDADE E TRAUMA DO NORDESTE

Do trio que chegou ao Flamengo em abril de 2006, Léo foi o único a segurar a onda no clube. E deu certo para ele: o ano de 2007 rendeu frutos para o volante. Frequente no time comandado por Ney Franco, e depois por Joel Santana, só não jogou mais do que o quinteto da defesa – Bruno, Léo Moura, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim e Juan – no Campeonato Brasileiro. A proposta para renovar logo chegou. Mas, mesmo com contrato até 2010, acabou ficando de lado. Concorrentes para a posição como Kléberson e Jônatas chegaram, e em 2008 o jogador fez as malas rumo ao Paraná.

- Com o Joel o Flamengo ainda deu uma alavancada. Eu não era titular absoluto, mas era frequente no time. Recebi a proposta para renovar, mas com a chegada de jogadores da minha posição, perdi espaço. O Ney Franco estava no Atlético-PR e fui para lá. Em 2009 joguei no Bahia, voltei em 2010 com o Andrade. Mas aí joguei apenas 45 minutos de um jogo, contra o Duque de Caxias no Carioca. Na época da Patrícia (Amorim, ex-presidente), os salários estavam em dia, e nenhuma proposta me seduziu. Segui treinando.

Depois de deixar o Rio, Léo retornou ao Ipatinga. Após passar por Remo, em 2012, e Rio Verde-GO no primeiro semestre de 2013, veio a traumática passagem pelo futebol nordestino. O CSA de Alagoas acertou com o jogador, mas não honrou os compromissos. Era a hora de voltar para o estado de origem e ter a tranquilidade perto de casa.

- Disputei a Série D pelo CSA e hoje até tenho interesse de clubes lá do Nordeste. Mas acho melhor não voltar por causa da minha última experiência. Se for para passar raiva lá longe, prefiro ficar por aqui (o jogador hoje vive na cidade onde nasceu, Recreio-MG). Não recebi um centavo no CSA.

As propostas, porém, não vêm só da parte de cima do mapa do Brasil. O Anapolina, de Goiás, já demonstrou interesse em contar com o jogador, que analisa a possibilidade de voltar a disputa a quarta divisão do nacional. Enquanto nada é acertado, foco nos estudos. Léo Medeiros está no quarto período da faculdade de Educação Física e já planeja o futuro: seguir no futebol, mas como integrante de uma comissão técnica. Quem sabe com Ney Franco?
- Pois é, quem sabe? – sorri.

WALTER MINHOCA: ARREPENDIMENTO E EXPERIÊNCIA FORA DO PAÍS

O Trindade-GO surpreendeu no estadual. Quinto colocado, lutou por vaga na semifinal até o fim. Walter Minhoca, um dos mais rodados do plantel, no entanto, pouco conseguiu jogar. Participou de apenas seis das 14 partidas. Após o fim do Goiano e sem jogos previstos, o elenco desmanchou. E ainda não há clubes prováveis em 2014 para o ex-camisa 10 do Flamengo, que rodou pelo país e até jogou no exterior após a passagem pelo Rubro-Negro.

- Passei pela Arábia Saudita (Al-Qadisiya) e pela Coreia do Sul (Daejeon Citizen). Na Arábia eu senti muito a mudança. Fui sozinho e no meu time não tinha nenhum brasileiro, nem tradutor. Foi bem complicado, nem na cidade eu conheci algum brasileiro. Na Coreia já foi maravilhoso, o time que joguei era bom. Morei numa cidade maravilhosa, joguei em estádios de Copa do Mundo. Experiência muito boa.

Minhoca passou pelo futebol paulista, onde jogou no Botafogo-SP, no Guarani e no São Caetano. Foram outras duas passagens pelo Ipatinga, que mudou de nome e de localização (para Betim, terra natal do meia). Mas nem a rodagem pelo futebol tira de sua cabeça o arrependimento de deixar de lado a oportunidade de atuar em um dos maiores clubes do Brasil.

- No dia (que tomou a decisão de sair do Flamengo, após o jogo contra o Internacional – veja lances do jogo no vídeo acima), o Ney Franco me ligou e foi muito honesto comigo. Perguntou como eu estava e disse que teria que me tirar do time contra o Botafogo. Me disse: “se eu perder, posso cair”. Falou que minha volta tinha que ser aos poucos, e como surgiu o interesse do Ipatinga no meu retorno, disse que queria ir embora. Fiquei quatro meses sem receber e não dava mais, a torcida já estava pegando muito no meu pé. Me arrependi demais depois, mas já era tarde.

DIEGO SILVA: “A TENDÊNCIA DO IPATINGA É FECHAR AS PORTAS”

Diego é o único dos três que não nasceu em Minas Gerais, e o fato de sair do Ipatinga, ao lado dos dois mineiros, influenciou em sua entrada na “república”. O atacante, natural de Foz do Iguaçu-PR, onde mora atualmente, atuou em apenas 12 jogos no Flamengo. Foram dois gols marcados, e alguns reencontros com o clube mineiro aconteceram no decorrer de sua carreira. O último, em 2014, rendeu apenas dor de cabeça. No Módulo II do estadual, o clube passou meses devendo salários e por pouco não acabou rebaixado.

- Vou ser bem sincero, a tendência do Ipatinga é fechar as portas. Fiquei lá quatro meses e não sei o que é salário este ano. Pedi a rescisão, mas não consigo nem falar com os responsáveis de lá. Tenho contrato ainda, mas não estão me pagando. Com isso, já tenho que ver outro lugar para jogar. Eu tenho para mim que o Ipatinga não vai nem conseguir disputar a Série D, a situação está crítica. Eu, que tenho algumas reservas, consigo me virar. Mas tem funcionário tendo que vender coisas para se manter. No último jogo do Mineiro, corremos como condenados para salvar o time. Vão ficar até quando enganando os jogadores pais de família?


Problemas com salário não são novidade em sua carreira. Este fator, inclusive, foi motivador para a saída do Flamengo em 2006. Com apenas 21 anos na época, ficar sem receber levou o jogador a pedir para sair. Ao contrário de Minhoca, porém, ele não escancara um arrependimento. Diz que não tem do que reclamar, pois em seguida teve boas passagens por Vitória – onde foi campeão baiano – e Barueri – conquistou o acesso para a Série A do Brasileiro.

Em busca de um lugar para jogar, Diego Silva não titubeou ao telefonar para Ney Franco. O pedido de ajuda mostra a boa relação com o treinador, que trabalhou com atacante ainda nas categorias de base do Cruzeiro, em 2002.
Fonte: GE

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