Técnico assume o clube novamente, sete anos depois da primeira passagem, e tem a carreira marcada por trabalhos duradouros, mas com algumas dificuldades.
Ney Franco está de volta ao Flamengo, quase sete anos após sua primeira passagem. Nesse tempo, muita coisa mudou, e ele retorna após seis trabalhos duradouros na bagagem, que renderam títulos importantes, como a Copa Sul-Americana de 2012, pelo São Paulo, e o Mundial Sub-20 de 2011, pela seleção brasileira. Seus últimos dois trabalhos foram bem parecidos em vários aspectos, tanto nos bons quanto nos maus momentos.
Após assumir o São Paulo em 2012, Ney Franco ajeitou o time do São Paulo no 4-2-3-1 com Lucas na ponta direita, Osvaldo na esquerda e Jadson armando. Além do título da Sul-Americana, teve uma arrancada que o levou à quarta colocação no Campeonato Brasileiro e consequente classificação para a Taça Libertadores. No primeiro semestre de 2013, porém, tudo desandou: ele entrou em conflito com Rogério Ceni e outros jogadores e foi demitido pouco depois da eliminação da Libertadores diante do Atlético-MG, em julho.
Assumiu em setembro um Vitória perto da zona do rebaixamento e chegou a brigar por vaga na Libertadores. Não se classificou, mas deixou a impressão de que havia um time montado para crescer em 2014, o que não foi mostrou nos resultados. Ainda assim, contava com o respaldo da diretoria do clube baiano.
Confira algumas características que marcaram os trabalhos de Ney Franco entre 2006 e 2014:
ESTABILIDADE
Desde que começou a se destacar no cenário nacional, em 2006, Ney Franco soma apenas oito trabalhos. E ficou por um bom tempo em quase todos eles. O período de oito meses em que esteve no Vitória é o menor em um clube desde então, seguido pelos nove meses em que dirigiu o Atlético-PR entre 2007 e 2008, sendo demitido pouco depois de perder a decisão do campeonato estadual para o Coritiba.
Nos outros clubes, os trabalhos duraram um ano ou mais. Mesmo no São Paulo, em que teve atritos com Rogério Ceni, ele permaneceu por exatos 365 dias no cargo. No Botafogo, foram 13 meses, e no Coritiba, 16, entre agosto de 2009 e dezembro de 2010. Quando estava no Coxa, chegou a receber uma proposta do Cruzeiro, mas recusou.
No Vitória, porém, ele afirmava sempre nas entrevistas que cumpriria o contrato até o fim, o que não aconteceu. Foi uma exceção, assim como no Coritiba, clube do qual ele saiu após o fim do contrato. Nos outros, foi demitido após maus resultados, sem conseguir uma sequência no trabalho.
VOCAÇÃO OFENSIVA
Vários treinadores brasileiros convivem durante boa parte da carreira com a pecha de retranqueiro. Ney Franco não é um deles, e em alguns momentos é criticado justamente pelo excesso de ofensividade. No São Paulo, por exemplo, só encaixou o time quando colocou Wellington, um volante mais marcador, no lugar de Maicon, que tem características de armador.
Na Seleção, ele manteve o estilo no Mundial Sub-20, sempre colocando o time para o ataque ou escalando Negueba e Dudu para puxar contragolpes. E não fechava o time na defesa com volantes quando conseguia vantagem no placar. No Vitória, ele buscou sempre armar o time com três atacantes, sendo um centroavante, e dois mais rápidos, pelos lados do campo. Diferente do Flamengo de 2007, que em alguns momentos era bastante previsível e chegou a ser chamado de time de totó.
VARIAÇÃO TÁTICA
Em seus trabalhos, Ney Franco apresenta duas variações táticas bem claras: o 4-2-3-1, adotado no São Paulo campeão da Copa Sul-Americana e na seleção brasileira campeã do Mundial Sub-20, e o 3-5-2, sistema utilizado no Coritiba campeão da Série B, no Atlético-PR e mesmo no Botafogo, em que o lateral-esquerdo Triguinho chegou a atuar como terceiro zagueiro em algumas oportunidades.
No Vitória, ele montou um esquema que permite uma variação durante o jogo. Luiz Gustavo, zagueiro de origem, atua como primeiro volante no 4-2-3-1, voltando para a compor a zaga em vários momentos do jogo. Foi uma tentativa de deixar a equipe menos vulnerável defensivamente, sem comprometer os constantes avanços dos laterais Ayrton e Juan, que têm dificuldades na marcação.
No Flamengo, Ney poderá fazer o mesmo, pois Léo Moura, aos 35 anos, e André Santos são jogadores muito ofensivos. É possível também que ele transforme Luiz Antonio em volante, abrindo espaço para um jogador mais rápido que possa compor um trio com Paulinho e Alecsandro (ou Hernane).
VALORIZAÇÃO DA BASE
Sempre que possível, Ney Franco utiliza bastante os jogadores formados na base dos clubes que comanda. Foi assim no São Paulo, e algumas tentativas, como o volante João Schmidt, não tiveram êxito. Outras, como Lucas, Wellington e Rodrigo Caio – este último depois de muita insistência dos outros técnicos – deram certo.
No Flamengo, alguns jogadores podem ser beneficiados, e um deles é Negueba, que viveu o melhor momento da carreira com Ney Franco na Seleção Sub-20. O meia Caio Rangel, de 18 anos, é velho conhecido do técnico, que o viu em ação com a camisa da Seleção Sub-15, e também pode ganhar uma chance entre os profissionais.
DIFICULDADE EM REPOR PERDAS
No São Paulo, além de ter problemas de relacionamento com Rogério Ceni, Ney Franco teve dificuldades para armar o time após a saída de Lucas, vendido ao Paris Saint-Germain, da França. Com a chegada de Paulo Henrique Ganso, contratado ao Santos, precisou mudar o esquema para jogar com dois armadores (Ganso e Jadson) e perdeu velocidade. O técnico foi prejudicado também pelas lesões de Wallyson e Negueba, que haviam sido contratados para dar opções.
A história se repetiu no Vitória. Com a contusão de Escudero, Ney Franco perdeu um meia importante e testou soluções diferentes, mas o time não conseguiu repetir o desempenho de 2013, quando chegou a brigar por vaga na Taça Libertadores. No estadual, foi derrotado pelo Bahia com facilidade na decisão, e na Copa do Brasil foi eliminado pelo J Malucelli na primeira fase. Fonte: GE
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